Como foi correr minha primeira meia maratona?

7/5/2025

Dia 15 de dezembro de 2024, após dois meses de doença e sem nada de exercício físico, eu fui liberada para me exercitar novamente. Depois de viver uma rotina de atleta amadora, e então voltar a estaca zero por causa de uma doença rara, eu sabia que precisava de um objetivo forte para voltar a me sentir bem. Um objetivo forte para mim deveria ser um objetivo difícil. Assim, eu decidi treinar para correr uma meia maratona. Durante os quinze últimos dias do ano eu voltei vagarosamente a me movimentar, com uma falta de força e resistência que eu nunca tinha sentido antes. Todas as minhas cargas voltaram para valores iniciais, minha resistência aeróbica estava muito prejudicada, e a resistência muscular pior ainda. Persisti nesse retorno. Demorei para gostar de praticar exercícios novamente, eu treinava porque sabia que era necessário.

No início de 2025, no segundo dia do ano, iniciei uma planilha de treinamento de corrida para conseguir realizar a meia maratona em junho, ou seja, eu tinha seis meses para treinar. Era tempo o suficiente. Meu objetivo nunca foi correr rápido, eu só queria terminar a corrida sem caminhar, para desafiar minha resiliência. A meta era eu lembrar e comprovar para mim mesma que eu podia fazer coisas difíceis.

A distância máxima que eu já tinha corrido era 10 km. A primeira vez que eu corri 12 km eu achei legal e divertido, não deu tanto trabalho além dos dez. A primeira vez que eu corri 14 km eu comecei a me impressionar pelo tempo que eu estava passando correndo. Para colocar em perspectiva, o tempo que levaria para assistir a um filme curto, digamos de até uma hora e meia, eu estava correndo, sem parar, sem caminhar. A primeira vez que eu corri 16 km eu senti a dor da corrida, e comecei a me conscientizar que essa dor fazia parte da jornada a partir de agora. Não é uma dor de lesão, é a dor do desconforto, de estar empurrando seus limites mais para frente, de estar indo além do que o seu corpo gostaria. Essa era a dor. Durante minha preparação a distância máxima que eu chegaria antes da prova, pela planilha do meu professor, seria de 18 km. A primeira vez que eu corri 18 km eu vi que a dor dos 16 km poderia ser maior, e que mesmo assim eu podia aguentar ela e seguir correndo. Nos treinos longos, meu marido sempre me acompanha, e ele é uma pessoa falante (apesar de às vezes durante a corrida eu pedir para ele ficar em silêncio). Durante uns quatro quilômetros mais para o final da corrida, nenhum de nós falou uma palavra, corremos em silêncio, sem uma risada, sem uma pergunta. Foi quando eu percebi que ele, assim como eu, também estava dentro da “caverna da dor”. Eu não sou muito de conversar correndo, eu só gosto de contar as distâncias: “Foram 11 km, faltam sete. Foram 15 km, faltam três”. E então, após o treino de 18 km, restava só a distância da meia maratona para realizar, apenas no dia. As duas semanas pré-prova foram com rodagens menores, é claro, para eu não chegar na prova esgotada.

Como em qualquer preparação física, nem tudo são flores. Eu não sou uma atleta profissional, longe disso, mas eu tenho uma mente extremamente competitiva e gosto de desafios. Uma rotina de treinos intensa tem seu preço. É preciso ter cuidado para não ocorrer sobrecarga. Só que é mais fácil falar do que fazer, a sobrecarga às vezes acontece sem nos darmos conta. Eu acredito que nenhum atleta, recreacional, amador, profissional, está livre de lesões. É apenas uma questão de quando e qual a intensidade. Afinal, só se molha quem sai na chuva. Só perde quem tem. Só cai do cavalo quem anda a cavalo. Tudo isso é verdade. E duas semanas antes da prova a sobrecarga me alcançou.

Eu já tinha sentido um desconforto no quadril outras vezes. O problema é que eu, muitas vezes ignoro desconfortos, se não são fortes o suficiente, eu não vou parar, e minha tolerância para dor é alta. Logo, acho que quando me dei conta a fadiga já estava lá. Na minha corrida longa de duas semanas antes da prova (o famoso longão) eu senti bastante dor. Meu treino consistia em 16 km em ritmo leve, e eu comecei a sentir dor no terceiro quilômetro. Muitos podem se perguntar “e por que não parou?”. Porque eu simplesmente não sou assim, e eu lido com as consequências das minhas escolhas. Uma pessoa mais sensata teria interrompido o treino talvez. Mas, esportivamente, nem sempre eu consigo exercer minha sensatez. Então eu continuei e terminei o treino. Quando terminei eu estava mancando e não conseguia levantar a perna, estava sem força. As duas semanas antes da prova foram muito leves, fiz alguns treinos de bicicleta para não ter impacto no quadril, e corri muito leve algumas vezes e por poucos quilômetros. Enfim, a fadiga se manteve sob controle e a dor praticamente sumiu.

Quando escolhi a meia maratona que eu queria correr eu só pensei num lugar bonito para correr. Escolhi a Meia Maratona de Floripa. Fria (fresquinha), plana e bonita. Eu desconsiderei a viagem para Florianópolis, mas quem mora em Uruguaiana se acostuma a ter que viajar longos trechos. Viajamos em dois dias, corremos no domingo, e viajamos em mais dois dias para voltar. Não é muito eficiente, mas é a realidade.

Eu fui para a corrida com um pouco de medo que a dor voltasse sim. Afinal, não queria correr 21 quilômetros com dor. Pensei que demoraria mais para eu conseguir terminar a prova. E claro, tinha a subida da ponte para vencer, que era a parte mais difícil do percurso. Mas, exceto pelo clima, que ninguém controla, tudo foi melhor que o esperado. Eu não senti dor durante a prova, apenas desconforto (totalmente esperado). Largamos sem euforia, dentro do planejado e mantivemos um ritmo uniforme o tempo todo. Vencemos a ponte! Corremos o tempo inteiro, sem nada de caminhada. E eu contei meu quilômetros como gostava. “Foi 1 quilômetro, faltam vinte” certamente foi o mais engraçado. Portanto, considerando tudo, foi uma vitória. Infelizmente choveu, mais da metade da prova. Não deu para enxergar muito a beleza de Floripa, mas tudo bem. Olhando pelo lado bom, com chuva não ficamos com calor, e nem dá para saber o que é suor e o que é água da chuva. Fica todo mundo molhado e ninguém se importa.

Sem dor, de bom humor, com as eventuais risadas, eu não tenho nada para reclamar da minha primeira meia maratona. Eu e meu marido aproveitamos cada instante da prova e nos divertimos. No final tudo dói mesmo, mas faz parte. Foi mais divertido do que os treinos de 16 km e 18 km, o que foi inesperado para mim. Talvez seja a vibração da prova mesmo e a energia de tantas pessoas correndo junto. Terminamos a corrida em 2 horas, 16 minutos e 28 segundos. Mais rápido do que pensei, considerando que eu esperava terminar com dor. Valeu a pena todo treinamento, que honestamente, é a parte mais difícil. A consistência, o investimento de tempo, o cuidado com a alimentação, o treino da suplementação, coisas que nem todo mundo está presente para ver.

Enfim. Eu consegui. Seis meses depois da pior doença da minha vida, a doença que trouxe e levou tanta coisa. Consegui, mas não sozinha. Agora sou (somos) meio maratonistas! A saúde e a corrida venceram.