A moda é importante mesmo?
Estava lendo um livro sobre um estilo de vida mais simples e me deparei com esta informação: “Dados de 2019 da ONU Meio Ambiente mostram que a indústria da moda responde por algo entre 8% e 10% da emissões globais de gases-estufa, mais do que a aviação e o transporte marítimo juntos”. Sei que é um dado de três anos atrás, mas me peguei pensando “será que um dia as pessoas vão se dar conta que a moda não importa tanto assim?”.
Quando eu era adolescente parecia que moda era uma coisa importante para mim. Eu adorava comprar roupas e vivia pedindo para comprar mais roupas, modelos diferentes, sapatos diferentes, às vezes peças que nada tinham a ver uma com a outra. Como poderia ter algum padrão se eu nem conhecia meu estilo pessoal? Naquela época eu usava o que enxergava minha mãe usando, ou dizendo que era bonito, ou o que eu via em revistas bonitas. Eu era baixinha e portanto, tinha o pé pequeno. Só mais para o fim do colégio que eu fui passar algumas colegas minhas em altura. Mas antes disso eu lembro que fiquei muito feliz quando passei a calçar 34. Porque, a loja de sapatos mais bonita da minha cidade, com as melhores marcas e modelos de sapatos, não vendia nenhum modelo abaixo dessa numeração. Então, quando meu pé atingiu esse tamanho, foi uma verdadeira festa poder ir na loja e experimentar e escolher todos aqueles sapatos lindos que eu sempre vi os outros usando. Pensando agora no meu consumismo exagerado fico até meio envergonhada. Não que eu endividasse meus pais comprando sapatos, como o bom cidadão que acha que entende de economia, eu não via nada de errado em parcelar a compra dos meus sapatos (pelo menos sem juros) para que depois que essas parcelas acabassem, eu pudesse ir lá e comprar outro sapato ou bota. Quando tinha festas chiques, geralmente eu gostava de comprar sapatos novos, não eram tão frequentes, mas mesmo assim, francamente, que comportamento sem noção. Se eu comprava porque realmente gostava ou porque estava buscando aprovação de alguém, de algo, da sociedade, eu não sei responder com certeza. Provavelmente sim, eram esses motivos fúteis os meus motivos. Mas fazer o que, às vezes a gente demora para aprender algumas coisas básicas da vida. Dê um desconto, eu era adolescente.
Levou anos para eu descobrir o que EU realmente gostava. Muitos anos. Durante esses anos minhas compras foram diminuindo bastante. Além do mais, infelizmente o valor que damos para o nosso próprio dinheiro nunca é igual ao valor que damos ao dinheiro dos nossos pais. Eu nunca fui alienada quanto a isso, até era consciente, mas quando o dinheiro que eu gastava literalmente saía do meu bolso, eu tendia a economizar mais.
Até que chegou o dia que eu comecei a pensar que moda na verdade não era uma coisa tão boa assim. Essa indústria gigante é muito representada por aparências e na minha opinião, quem vive de aparências, não vive honestamente. A moda faz as pessoas acharem que nunca estão bem ou bonitas o suficiente, que sempre temos que ter aquele determinado produto para nos sentirmos no topo. E isso também não é verdade. Você pode se sentir muito bem usando a mesma calça jeans e camiseta todos os dias. Esse sentimento é algo interno e a sua roupa não representa o seu conjunto infinito de características e qualidades. Sim, ela pode representar um pouco o que você valoriza. Mas nem de perto ela deve ser determinante.
Hoje em dia, eu compro tão pouca coisa que meu eu adolescente ficaria chocado. Fui reduzindo meu guarda-roupa até chegar em peças que são minhas preferidas. Atualmente eu sei do que gosto e tento fazer compras cada vez mais conscientes. Ainda acho que tenho que reduzir meus pertences. Não cheguei no meu mínimo ideal ainda. Mas com o tempo vou conseguir. Dessa forma, me vestir não é estressante ou motivo de dúvidas interiores, é bem mais fácil. Escolho rápido e não dou a mínima se usei essa roupa muito ultimamente ou se alguém vai reparar que é a mesma roupa (vamos ser sinceros, ninguém está prestando tanta atenção assim). Sei as cores que gosto de usar e não compro fora dessas cores. Sei os modelos e cortes que servem melhor para mim, e tirando alguns errinhos eventuais, compro apenas o que me cai bem.
Meu pensamento lá do início foi apenas uma exteriorização do desejo de que os seres humanos evoluíssem o suficiente para perceber que a marca de uma roupa (ou a opinião da indústria da moda) não é o que vai fazer ela ser melhor, mais quente, mais resistente, mais útil, e sim a qualidade dessa roupa. E que provavelmente você não precisa de um número gigante de roupas (de boa qualidade) para se sentir coberto, aquecido, bonito, confortável e funcional. Esse número é bem menor do que pensamos. No quesito moda, a qualidade e a utilidade deveriam superar a quantidade.