Dá para ser minimalista e capitalista?

mo_britto

5/14/2022

O quanto do nosso consumo é consciente? Essa pergunta às vezes surge na minha cabeça. Naturalmente, porque me considero uma pessoa que vive um estilo de vida minimalista e essencialista, então eu estou sempre me perguntando sobre a consciência das minhas decisões e escolhas.

Eu sou capitalista, sei o que o capitalismo nos proporciona, de todo o conforto que hoje é possível por causa do desenvolvimento humano através do uso do capital, e da perspectiva de liberdade que me proporciona para eu poder trabalhar e fazer o que eu quiser com o meu dinheiro, inclusive ganhar mais dinheiro, desde que eu esteja dentro da lei e sem fazer mal a ninguém. Gosto muito do meu dinheiro, sei o valor que ele tem para mim. E, por outro lado, eu sou minimalista em grande parte dos meus bens materiais. Consumir é necessário, o que não me agrada é o excesso de consumismo, ou um consumismo desenfreado que acaba prejudicando a pessoa e evitando que ela enxergue outras coisas importantes na vida. Então, no meu entendimento sobre o minimalismo, você consome o que é realmente importante, não é o fato de consumir ou não, e sim a escolha deliberada e ponderada sobre o que consumir. Não necessariamente quanto, mas o que. O número de coisas vai variar de pessoa para pessoa, porque o valor que cada coisa tem para cada um é diferente.

Talvez seja a moda que me causa um certo incômodo. Porque é o mais fácil da pessoa "se perder" e fazer compras impulsivas. Quando, realmente, quantas peças de roupa uma pessoa precisa? Não muitas. Pela funcionalidade da roupa em si, de nos cobrir, nos proteger do sol, nos proteger do frio, o número de roupas que precisamos é bem menor do que a maioria das pessoas possui. Mas então existe a moda, que muda constantemente, que é feita de tendências (que hoje em dia chega a ser engraçado porque nada mais é novo, é tudo repaginado de algo que já esteve na moda no passado). E essa mudança constante não condiz com a mudança na necessidade das pessoas. Elas andam em ritmos diferentes. A moda é muito mais rápida do que a nossa real necessidade de comprar roupas.

Talvez todo mundo tenha um vazio dentro de si que sempre está tentando preencher porque o ser humano é eternamente insatisfeito e só muda o foco do seu desejo. Mas e se a gente tentasse preencher esse vazio de outras formas que não fosse com roupas e sapatos? Eu, por exemplo, venho trocando moda por leitura. Já faz um tempo que me libertei da necessidade de sempre ter roupas novas e acompanhar tendências. Prefiro ter o básico que funciona e usar um critério importantíssimo para mim, que é o conforto. Roupa para mim tem que ser confortável, o resto é secundário. E com o que preencho meu "vazio"? Com livros! Na minha opinião muito melhor e de quebra sempre se aprende algo. Por mais desatenciosa que seja a sua leitura, algo mínimo será aprendido. Nem que seja uma palavra nova no seu vocabulário, ou a mínima habilidade de ler mais rápido. O custo benefício de um livro é muito superior ao de uma roupa ou de um sapato. Ou então, invista em tempo de qualidade: passando mais tempo com quem você ama, viajando e conhecendo lugares novos, aprendendo novas habilidades.

Então, não estou sugerindo que todo mundo pare de comprar roupas e sapatos e ande nu por aí. Mas quem sabe tentar ser mais consciente do seu consumo. Se fazer as perguntas importantes necessárias e ser honesto consigo mesmo. Estou comprando para quê? Para quem? É um motivo real ou inventado? Eu posso pagar por isso sem prejudicar meus planos? A compra está de acordo com meus princípios de vida? Enfim, somos muitos no mundo para sermos tão inconscientes. Nossas escolhas importam.