Como é a sua socialização?
Olhei um vídeo sobre trabalho remoto que me fez pensar sobre a pergunta do título. Na opinião exposta no vídeo, para a maioria das pessoas, o trabalho remoto não é a melhor opção basicamente porque falta interação social. No meu caso, acredito que eu me encaixaria na minoria das pessoas deste exemplo, as que não necessitam tanto assim de interação social. Ou pelo menos, não diariamente. O número de vezes que eu já ouvi da minha família que sou antissocial chega a ser chato. Eu não nego, não teria porque negar. Preciso menos de pessoas do que a maioria das pessoas que conheço. Só que isso não quer dizer que não preciso de ninguém. Acho que é difícil para os extrovertidos compreenderem.
O dicionário diz que introversão é ação, ato ou efeito de introverter; comportamento da pessoa que demanda toda a sua energia psíquica para si mesmo, que tende a ser fechado e contido. Eu tenho essa característica, eu sou essa pessoa. Antes eu achava que o meu jeito de ser simplesmente significava que eu era tímida. Mas muitas vezes já ouvi pessoas dizerem “mas você não é tímida”. Porque com meus amigos, que são poucos e bons, eu de fato não acho que sou tímida. Confundia minha introversão com timidez.
Você pode ser as duas coisas, ou só uma delas, não existe uma regra. Eu até admito que pareço tímida às vezes, mas na realidade mesmo, é só meu lado introvertido se manifestando. Acredito que uma das principais características da minha introversão, e também uma que demorei pra perceber e aceitar, é o fato de que eu prefiro não estar no meio de muita gente (o que "dificulta" a socialização). E isso precisa ser explicado mais detalhadamente. Demorei para me dar conta porque eu sempre convivi com gente que era extrovertida, então eu achava que o “normal” era ser daquele jeito, sempre jogando conversa fora e sempre ansioso pelos eventos sociais e junções de pessoas. Eu acreditava que eu não gostava de pessoas. O que não é verdade. Eu gosto de pessoas, mas eu gosto das pessoas certas para mim, e por acaso esse número de pessoas é pequeno. Isso não é anormal. Eu só sou o que eu sou.
Eu tinha problemas em falar em público, o que era um pouco de timidez sim, mas não só isso. Acredito que ficar no meio de um grupo grande de pessoas me deixa nervosa, mesmo que eu não tenha que falar nada, mas como se a conversa fosse uma exigência. Eu gosto de observar. E mesmo observando, chega uma hora que eu canso. Não é culpa específica de alguém (a não ser que seja uma pessoa muito negativa), é só porque minha energia para esse tipo de coisa se esgota mais rápido. Para falar em público eu tinha um pouco de vergonha, mas hoje em dia eu sei que com preparo, estudo, planejamento, eu consigo desempenhar essa tarefa de forma eficiente, consigo transmitir uma ideia. É algo que eu escolho fazer sempre? Provavelmente não, porque apesar de eu saber que sou capaz, ainda é extremamente cansativo para mim, e desconfortável.
O introvertido fica com fama de esquisito, rude ou quieto. Sem falar de antissocial. Eu posso até ser todas essas coisas em momentos diferentes da minha vida, mas elas não me definem. Se me chamar de esquisita, vou até considerar um elogio, para mim é bom não ser igual a todo mundo. Minha primeira tatuagem foi “Ser diferente é normal”. Se sou rude, me perdoem, é apenas porque ainda tenho muita paciência para aprender, ainda sou muito reativa. Quem aí tem toda a paciência que gostaria em todas as situações da vida? Eu sou quieta porque conversas fúteis não me agradam tanto. Eu sou quieta porque gosto de dizer a verdade e as pessoas dificilmente estão interessadas na verdade verdadeira; elas querem um fingimento, um teatro. Eu sou quieta porque aprecio muito o silêncio. Você devia testar também, o silêncio quero dizer.
A introversão está bastante ligada à sensibilidade. Como introvertida, tenho sensibilidade a muito som, muitas vozes, muito caos, isso tudo é percebido de forma mais intensa pela minha mente. E é por isso que eu canso, minha energia para as situações é diferente. Quando eu canso, eu saio de perto, dou uma fugida. E eu apenas gostaria que ninguém ficasse ofendido com isso. Não é ofensa não querer estar na presença de alguém, nem tudo tem uma fonte maléfica por traz de ser. Às vezes eu posso simplesmente estar querendo escutar meus próprios pensamentos e no meio de muita gente não consigo.
Todas essas características também não querem dizer que eu quero viver eternamente sozinha e me tornar uma eremita. Só que pode querer dizer que eu não preciso de tanta gente na minha vida quanto alguém extrovertido precisa. Isso faz de mim pior ou menos? Absolutamente não, só não sou igual a essa pessoa que acha isso estranho e não é capaz de aceitar diferenças. Quando alguém me pergunta “Tu fala tão pouco, por que é tão quieta e tímida?” eu sempre penso (mas nunca falei), “E tu por que fala tanto, não poderia simplesmente fazer silêncio e apenas ser?”. Não posso falar isso porque quem ouvir vai considerar grossura ou até falta de educação. Experimente fazer uma pergunta um pouco mais profunda para um introvertido do que apenas conversar sobre amenidades, talvez te surpreenda com a resposta.
Mas o difícil para o introvertido não é saber disso tudo, é aguentar aquele sorrisinho amarelo dos extrovertidos quando dizemos que não queremos ir a determinado lugar porque vai ter muita gente ou que queremos ir embora (cedo) porque já deu de ficar no meio de muita gente. É o julgamento que incomoda, por menor que seja a indicação de que você foi julgado. Como se o jeito “certo” fosse ser extremamente alegre, falante, pulante, extravagante.
Além disso, eu encontro outras formas de socializar hoje em dia. Na minha rotina, festas são bastante raras, porque eu priorizo meus hábitos de sono. Mas eu socializo através do esporte e do exercício físico. Qual a diferença na socialização em si, de encontrar pessoas para beber e encontrar pessoas para malhar? Vejo até mais vantagem no meu tipo de socialização, já que é mais saudável. Sendo que, um dos esportes que eu pratico, que é o crossfit, é um dos que mais tem senso de comunidade incutido na prática do exercício físico. Quem já praticou sabe. Já que a "socialização digital" não parece contar (e eu não estou totalmente convencida que não conta) eu uso o esporte para socializar. Existe um termômetro de socialização dentro de cada um de nós, o do introvertido (meu no caso) chega na sua temperatura máxima bem antes do que o de um extrovertido chegaria. É simples assim. Eu canso de estar no meio das pessoas e preciso ficar sozinha de novo. Não há nada de incompreensível nisso. Pode ser diferente do que você está acostumado? Pode. Isso não torna errado.
Então fica a dica para os introvertidos. Façam bom uso do seu tempo sozinhos; encontrem um parceiro que entenda e que seja mais extrovertido que você (para ter uma oposição saudável); pratique um esporte e socialize através do exercício físico. Citando Susan Cain, a autora de O Poder dos Quietos: "Como Jung acertadamente colocou, 'não existe introvertido ou extrovertido puro, um homem assim estaria em um sanatório para lunáticos'. Você tem o direito de ser como é". Assim como entre o otimismo e o pessimismo, é preciso achar um equilíbrio entre a introversão e a extroversão, sem deixar de ser verdadeiro.