Você é caprichoso?
“Capricho dá trabalho” disse Mario Sergio Cortella. Segundo o dicionário a palavra capricho tem basicamente dois significados comuns: uma vontade súbita e infundada (birra ou teimosia); e empenho na realização de uma atividade (esmero). Vou me referir ao segundo significado primeiro. Que de fato, dá muito trabalho. O dilema de um perfeccionista em recuperação é fazer as coisas com capricho, sem deixar que a busca por uma perfeição (inexistente) o paralise. Mas mesmo sabendo que a perfeição não existe, já tentaram fazer tudo com capricho? É extremamente difícil. E muitas vezes incompreendido. As pessoas sempre perguntam para quê? Ora, porque sim, porque é o jeito mais certo, mais valoroso, mais digno, porque eu vou saber se eu dei o meu máximo mesmo que ninguém mais saiba. E não deveria ser muito importante a gente manter as promessas que faz para si mesmo? Se não somos capazes de manter nossa palavra para nós mesmos, como vamos manter a palavra com as outras pessoas? Você só faz o correto quando alguém está vendo? Se você se considera uma boa pessoa, eu espero que não. Espero que fazer o bem para você não dependa de plateia.
É comum no Brasil usar a expressão “jeitinho brasileiro” para o jeito malandro como lidamos com situações do cotidiano. Acho essa expressão um tremendo desserviço ao brasileiro, aos meus ouvidos é uma ofensa. Se alguém me disser que eu usei o “jeitinho brasileiro” em alguma situação eu vou me entristecer, porque significa que eu simplesmente me contentei em fazer parte de uma média que não quer se dar ao trabalho de fazer as coisas da melhor forma possível, de fazer as coisas com capricho. Existe algo mais deprimente do que ser medíocre? Não gosto de me contentar com a mediocridade em nenhuma esfera da vida.
Eu gosto de ser lembrada como uma pessoa caprichosa, pois me lembra competência. Quem não quer ser lembrado por ter feito um bom trabalho? Todos nós queremos, porque no fundo queremos aprovação. Meu capricho se manifesta muito em organização, mas não apenas nisso. Também manifesto meu capricho na execução das pequenas coisas. Arrumar a cama todos os dias, lavar a louça assim que terminar de comer, guardar as coisas depois de usar. Todas essas são ações muito simples que demonstram o esmero que eu tenho pela minha própria rotina, e por extensão, pela minha própria vida. Eu valorizo muito a minha vida. Quero fazer o melhor que eu puder com ela. Ajudar a mim mesma e as pessoas que são importantes para mim. Posso até ser suspeita para falar, mas acredito que se todos fossem mais caprichosos e organizados, a convivência entre as pessoas seria muito melhor. Meu capricho também se manifesta em outros tipos de ações: respeitar horários, não furar filas, não pedir além do que eu estaria disposta a dar, não fazer com os outros o que eu não gosto que façam comigo. Isso tudo deveria ser o regular, e não considerado extra ou caprichoso. Parece óbvio, mas até ter bom caráter é considerado capricho hoje em dia. E como ninguém está livre de defeitos, às vezes também manifestamos um pouco do segundo significado de capricho, e somos birrentos. Quando estamos em estado de birra o melhor é não fazer nada, se afastar da situação, pensar melhor, e voltar a agir quando tiver consciência completa da própria birra, para você não deixar ela dominar a sua escolha.
Seja correto porque sim. Seja correto para agradar a si mesmo, e consequentemente ser mais agradável para os outros. Faça as coisas corretamente simplesmente porque vai fazer bem para você e para o mundo. Se o reconhecimento pelos seus bons atos vier, ótimo, mas não faça na expectativa do reconhecimento. Verdadeiras boas ações são feitas sem cobrança de retorno. Um presente verdadeiro só é verdadeiro se você não espera absolutamente nada em troca. Seja uma boa pessoa, talvez as outras pessoas sejam boas de volta. Se não forem, aceite, se afaste e siga em frente.