Você é viciado no seu celular?
1/19/2025
Talvez a pergunta certa seja: você também é viciado no seu celular? Ou “você é viciado em rede social?”. O uso excessivo das redes sociais me perturba há anos. Seria no mínimo inconveniente viver sem meu celular hoje em dia, e talvez trouxesse mais problemas do que tranquilidade. Mas é essa urgência que temos de estar sempre com o celular na mão que me incomoda. Eu duvido que você que está lendo esse texto não seja culpado, assim como eu, da seguinte situação: estar sentado na cadeira da sua sala de jantar, com um prato de comida na sua frente em cima da mesa, um garfo em uma das mãos e o celular na outra mão. E o pior, às vezes nem nos damos conta que estamos comendo e vendo sabe-se lá o que no celular ao mesmo tempo. Talvez se você for pensar depois não lembre nem do que comeu, nem do que estava assistindo no celular. Pensar racionalmente nessa situação me deixa um pouco revoltada, porque é um absurdo que algo tão pequeno exerça um poder tão grande sobre nós, e afete tanto a nossa rotina. Quem nunca levou o celular para o banheiro? Quem nunca estava olhando o celular e talvez mandando uma mensagem enquanto outra pessoa (uma pessoa de carne e osso na sua frente) estava fazendo uma pergunta e sendo ignorada? O celular é muito útil, para nos comunicarmos com mais eficiência, para nos orientarmos com facilidade, para realizarmos transações bancárias, para ajudar a organizar nosso tempo e nossa agenda, etc. O aparelho em si tem inúmeras vantagens e representa um grande avanço para nós. Só parece que no meio do caminho nossa mente “derreteu” um pouco e esqueceu algumas coisas importantes, se tornando incapaz de distinguir quando o celular está sendo benéfico ou está atrapalhando nossa atenção e nosso discernimento. Como perceber e saber quando passamos do ponto do uso do celular e da rede social? Eu me pergunto isso todos os dias.
Vivo constantemente me perguntando se eu deveria seguir usando o Instagram ou não. É preciso exercer a moderação quanto a isso. Talvez seja ingênuo da minha parte achar que vou cortar completamente o uso da rede social e não vou sentir falta por simples força de vontade. Mas também não posso deixar que a rede social me controle. Que necessidade é essa de sempre olhar o que os outros estão fazendo e contar o que estamos fazendo através de fotos e vídeos? Precisamos tanto assim da validação dos outros? Ou, nos achamos tão importantes, ao presumir que os outros não podem viver sem saber o que estamos fazendo diariamente? Parem para pensar no absurdo do pensamento “se eu não postar, ninguém vai saber que eu treinei, logo terá sido em vão”. Sua mente e seus músculos vão saber que você treinou porque certamente a dor muscular tardia vai surgir de 24 a 48 horas depois do treino, quer você tenha postado que treinou ou não. Ao mesmo tempo, fico pensando “mas e se alguém olhou o vídeo do meu treino e foi treinar também”. Isso seria algo positivo, uma influência boa para quem está olhando. Entretanto, acho que às vezes superestimamos a nossa importância na rotina dos outros. Sendo realista, provavelmente o que temos de influência e importância é de 50% para baixo. Metade das vezes estamos representando uma influência positiva, e metade das vezes estamos apenas distraindo as pessoas do que realmente importa na vida delas. Isso se aplica à nossa vida também, e a quem acompanhamos na rede social. Na maior parte do tempo a gente não precisava de fato verificar o que nosso influenciador favorito está fazendo. É muito difícil chegar num acordo consigo mesmo do quanto é “saudável” e necessário para cada um de nós, muito complicado de saber e agir com intenção e autodisciplina. Mas, se disciplina fosse fácil todo mundo tinha e o mundo não estaria cheio de reclamões e procrastinadores. É a vida, ordem e caos, e a constante busca por equilíbrio.
Eu me esforço para me tornar uma pessoa consciente, para ser uma pessoa esclarecida, que busca sempre evoluir. E no entanto, não sei essa resposta para aplicar na minha vida, não com exatidão. Não sei bem o quanto é demais, ou de menos. Ou talvez eu saiba, no fundo da mente, e só não tenho resiliência para resistir sempre. Então, deve ser uma análise constante. Não podemos deixar que o nosso comportamento digital caia no automático. Eu não tenho Facebook e Twitter (que já virou X) há anos. Nunca, nunca, nunca me fez falta. Nenhuma. Já o Instagram, que de tempos em tempos eu me privo de usar, deleto do celular e passo dias ou semanas sem olhar nada, eu sigo tendo e até hoje não deletei completamente. O que será isso? Por que não é tão fácil negar esse impulso e essa vontade? Ainda não descobri como remediar. Talvez o único caminho para mim nesse caso seja deletar de uma vez. Eu confesso que tenho um apego às minhas fotos publicadas, sempre gostei de fotos, e de tempos em tempos eu volto e olho tudo, são boas memórias. Pode ser esse o meu apego emocional. Mas voltamos ao controle. Se é apego emocional, eu deveria deixar me controlar? São só fotos e vídeos, a experiência eu já vivi, eu deveria permitir que exercessem tanta influência sobre o meu tempo? Além disso, as redes sociais estimulam dois comportamentos que são muito muito ruins, a comparação e o julgamento. Nos tornamos incapazes de comparar nosso eu do presente com nosso eu do passado, ao invés disso, nos comparamos com alguém com uma realidade e uma vida totalmente diferente da nossa (e ficamos tristes ou aborrecidos com a comparação). E foi a rede social que nos trouxe essa incapacidade. Eu não sei vocês, mas controlar pensamentos é uma das coisas mais difíceis para mim. Eu basicamente olhei, enxerguei, estou pensando algo. Ou seja, estou julgando algo. Ou pior, alguém. Eu sei que não é todo mundo que tem coragem de admitir isso, mas que é todo mundo que faz (ou já fez muito). E todo esse julgamento, que verdadeiramente não faz bem nem para o julgador nem para o julgado, piorou muito com o uso da rede social.
Eu não trago respostas. Ainda acho que o potencial danoso das redes sociais vai se revelar (mais). E espero um dia me livrar delas. Se você achou esse texto um exagero, um devaneio, simplesmente ignore. Mas se algo nas palavras lidas te deixaram com uma pulga atrás da orelha, pare um momento e reflita sobre o seu próprio uso do celular e das redes sociais. Você pode usar menos? Você tem como criar barreiras contra o uso excessivo? Você pode simplesmente deixar o dispositivo em outro cômodo por algum tempo? Você é capaz de deletar alguma rede social? Talvez seja interessante responder essas perguntas. E depois pensar em outras mais difíceis para serem respondidas.